O adolescente Owen está apenas a tentar sobreviver nos subúrbios, quando o seu colega de turma o apresenta a um misterioso programa de televisão noturno - uma visão de um mundo sobrenatural, por debaixo do seu. Sob o brilho pálido da televisão, a visão de Owen da realidade começa a rachar...
Eis aqui o ponto de partida para a esperada segunda longa-metragem de Jane Schoenbrun, filme para o qual a Geração Z tinha expetativas muito altas, após a consagração que supôs o anterior We're All Going to the World's Fair, uma das reflexões recentes mais singulares sobre a vida em Internet. Com aspirações narrativas maiores, e uma ambição estilística também superior - apoiada, claro, num orçamento muito mais expressivo -, I Saw the TV Glow não só não defrauda, como reafirma o selo autoral de Schoenbrun como o de alguém capaz de criar obras geracionalmente icónicas. O mais interessante é confirmar que onde o filme anterior tinha uma aura intensamente pessoal, este parece conjurado a partir de um ponto de vista mais coletivo. O excesso de medos e a falta de amor, as inseguranças, ansiedades e (des)ilusões das que fala, parecem uma radiografia do zeitgeist vivido pelas juventudes em 2024, como se tivessem sido conspiradas por uma comunidade, por todes nós em conjunto. Praticamente o mesmo que acontece com a banda sonora, onde o brilhante score de Alex G aparece secundado pelo que parece um “quem-é-quem” da galáxia de indie-darlings atuais, com canções de, entre outres, Yeule, Caroline Polachek, L'Rain ou Phoebe Bridgers. Ar do tempo. C.R.