
Numa iniciativa financiada pela União Europeia e pela Startup Europe Regions Network, no âmbito do programa Youth 4 Outermost Regions, o Queer Lisboa foi convidado a organizar um programa de cinema queer, a ter lugar em Angra do Heroísmo e na Praia da Vitória, que se estende por três momentos nos meses de maio e junho, culminando nas datas da celebração do Azores Pride e envolvendo várias instituições culturais da ilha e agentes sociais.
O programa Queer Terceira, todo falado em língua portuguesa e composto de 14 filmes, entre longas e curtas-metragens, documentais e de ficção, de produção portuguesa e brasileira, foi construído segundo a lógica de momentos temáticos, que procuram ir ao encontro de um conjunto de temas pertinentes no panorama político e social atual e do seu impacte nas pessoas e comunidades queer. Todas as sessões e atividades do programa são de entrada gratuita.
1º momento – 16 a 18 de maio, Auditório do Ramo Grande, Praia da Vitória
Tema: juventude, religião e família
Neste primeiro momento do nosso programa, propomos um olhar sobre a nossa relação individual com esses lugares de pertença e de crescimento - o bairro e a escola, a família e a religião -, e da não rara necessidade de rompimento com esses lugares, para construir aqueles outros, onde somos mais seguros e mais felizes: as nossas comunidades tornadas família alternativa. Três filmes ajudam-nos nesta reflexão. Lobo e Cão, de Claúdia Varejão, rodado em São Miguel, onde a esta procura de comunidade se alia a questão da periferia, num duplo esforço de pertença; Pedágio, de Carolina Markowicz, que foca na família e religião e no muito pertinente assunto das terapias de conversão; e Intransitivo: um Documentário sobre Narrativas Trans, assinado pelo coletivo Intransitivo, um fazer cinema a partir da ideia de pertença e de dar voz a uma polifonia marginalizada que tanto tem para dizer e ensinar.
2º momento – 30 de maio a 1 de junho, Centro Cultural e de Congressos e Recreio dos Artistas, Angra do Heroísmo
Tema: saúde sexual e saúde mental nas pessoas queer
É sobre a memória da epidemia da sida que Joaquim Pinto fala no seu documentário autobiográfico E Agora? Lembra-me, preenchendo magistralmente uma enorme lacuna no cinema português, que historicamente sempre receou abordar tais temáticas. E se a epidemia da sida abriu caminho para uma maior atenção para que se falasse de saúde sexual nas pessoas queer, também a saúde mental tem merecido especial atenção, em particular nos anos mais recentes. Ficção brasileira, A Metade de Nós é de uma sensibilidade rara na abordagem desta temática. No contexto destas duas exibições, a seguir à projeção do A Metade de Nós, tem lugar um debate com a presença da psiquiatra e sexóloga clínica, Mariana Bettencourt, e de Vanessa Barcelos, especialista em Medicina Interna, com pós-graduação em VIH/sida.
Ainda neste 2º momento do Queer Terceira, em sessão especial em parceria com a companhia Cães do Mar, apresentamos O Carnaval é um Palco, a Ilha uma Festa, de Rui Mourão, documentário que propõe um olhar às Danças de Carnaval da Terceira sob o prisma das questões de identidade sexual e de género.
3º momento – 13 a 15 de junho, Recreio dos Artistas e Lar Doce Livro, Angra do Heroísmo
Tema: ativismo e vozes queer
Durante a última década, o cinema português foi progressivamente habitado por uma polifonia de vozes queer, carregadas de urgência, ávidas em recuperar o tempo perdido, focadas em dar a ver as suas histórias, sem esquecer os nossos passados, nem em imaginar utopias de futuro. A par do documentário As Fado Bicha, que nos dá a conhecer um dos projetos mais relevantes do panorama musical e do ativismo queer atuais, este fim-de-semana é dedicado a um conjunto de curtas-metragens recentes dessas outras vozes de Paula Tomás Marques, Ary Zara, Sérgio Galvão Roxo, Joana de Sousa, Ricardo Branco, André Godinho, e David Pinheiro Vicente, realizador natural da Ilha Terceira.
Nos últimos meses assistimos à edição de um conjunto de livros que nos ajudam a traçar uma muito necessária história da cultura queer em Portugal. Para nos ajudar nesta reflexão, organizamos um debate na livraria Lar Doce Livro, com a presença de Jó Bernardo, que este ano editou “Quem?”, autobiografia de Rute Bianca; António Fernando Cascais, que recentemente lançou as obras “Estar Além - A Persona Queer de António Variações”, “Masculinidades debaixo de fogo: Homossocialidade e homossexualidade na guerra colonial” e “Dissidências e Resistências Homossexuais no Século XX Português”; e Isabel Rodrigues, uma das autoras de “Dar e Receber Amor em Todas as Suas Formas”.