
Teve lugar esta noite de sábado, dia 27 de setembro, às 21h00, a Sessão de Encerramento do Queer Lisboa 29 - Festival Internacional de Cinema Queer, na Sala Manoel de Oliveira do Cinema São Jorge, onde foram anunciados os prémios da Competição de Longas-Metragens, Competição de Documentários, Competição de Curtas-Metragens, Competição In My Shorts - que distingue o Melhor Filme de Escola Europeia -, e Competição Queer Art. Em seguida, o palmarés do Queer Lisboa 29:
COMPETIÇÃO LONGAS-METRAGENS
O júri composto pela cineasta Catarina Vasconcelos, a gestora cultural Francisca Carneiro Fernandes, e o programador e distribuidor Gustavo Scofano, deliberou:
Melhor Filme
Laurent dans le vent, Anton Balekdjian, Léo Couture, Mattéo Eustachon (França, 2025, 110’)
“Lembrando-nos de que somos sobretudo dúvidas e fragilidade, este filme faz-nos enfrentar isso. Na sua delicadeza e força, este filme recorda-nos que a ternura e a fragilidade não podem nem devem desaparecer dos nossos dias, das nossas conversas e das nossas vidas e que as franjas são sempre tão mais extraordinárias, diversas e enriquecedoras do que o centro. Um filme que entrelaça, de forma sábia e sensível, a solidão, a saúde mental, a luta por outras formas de afetos e pertença, tocando a questão da sexualidade sem que isso seja um tema central. Porque este filme é um filme que nos abraça, numa viagem entre a vida e a morte, fazendo-nos acreditar num mundo onde todes possam ser livres para serem aquilo que são. Tocou-nos sobretudo o facto de ser um filme sobre humanidade: a humanidade que gostaríamos e poderíamos ser.”
Menção Especial
Lesbian Space Princess, Emma Hough Hobbs, Leela Varghese (Austrália, 2025, 87’)
“Aparentemente simples e leve, este filme demonstra um trabalho, rigor e pensamento de uma profundidade brutal através das múltiplas camadas que nos apresenta. Um filme essencial para todos, todas e todes, adolescentes, jovens e adultos, dado o poder transformador que possui sobretudo através da importância e do foco colocado na ideia, por vezes tão secundarizada, de amor próprio. É profundamente admirável (e traz-nos alívio e esperança) que um filme de temática queer consiga usar o humor para rirmos de algumas das nossas feridas e medos mais profundos, relembrando-nos de como a alegria nos pode salvar.”
Prémio do Público
Jone, a Veces, Sara Fantova (Espanha, 2025, 80’)
COMPETIÇÃO DOCUMENTÁRIOS
O júri composto pela cineasta e produtora Marta Sousa Ribeiro, pelo artista visual e investigador ROD, e pela jornalista Silvia Alves, deliberou:
Melhor Filme
Ceci est mon corps, Jérôme Clément-Wilz (França, 2025, 64’)
“No discurso inicial deste festival, João Ferreira afirmou que o Queer Lisboa 29 é cinema de denúncia, revolta e ativismo. “Ceci est mon corps”, de Jérôme Clément-Wilz, faz exatamente isso. É um filme que se destaca pela linguagem sincera e crua, através da qual Jerôme partilha connosco a sua vida privada e a sua procura por uma verdade que ninguém parece querer ver.”
Menção Especial
My Sweet Child, Maarten de Schutter (Países Baixos, 2025, 58’)
“Uma autobiografia que faz uma colagem de fragmentos para recuperar a memória afetiva da mãe. “My Sweet Child”, de Maarten de Schutter, tocou-nos pela forma como o realizador conseguiu tornar esta procura num objeto artístico e cinematográfico.”
Prémio do Público
My Sweet Child, Maarten de Schutter (Países Baixos, 2025, 58’)
COMPETIÇÃO CURTAS-METRAGENS
O júri composto pela artista Diego Bragà, pela cineasta Francisca Manuel, e pelo jornalista cultural Tiago Manaia, deliberou:
Melhor Filme
Birthdays, Adrian Jalily (Dinamarca, 2025, 19’)
“Este retrato da infância queer tocou-nos profundamente, e como recebe a sociedade a presença de uma criança que não corresponde à cisgeneridade. Pelo retrato não maniqueísta dos pais quando se colocam no papel da criança. Há engajamento de um futuro mais esperançoso e livre.”
Prémio AltContent (de pós-produção áudio e musical)
Homunculus, Bonheur Suprême (França, Itália, 2025, 18’)
“Pela experimentalidade sonora dos diálogos e universo.”
Menção Especial
Twilight Ladies, Alain Soldeville, Alexe Liebert (França, 2024, 11’)
”Pelo discurso trans-feminista para um futuro empoderado, com um olhar não fatalista sobre vidas trans afetadas pela gentrificação.”
Prémio do Público
Big Boys Don’t Cry, Arnaud Delmarle (França, 2025, 23’)
COMPETIÇÃO CURTAS-METRAGENS DE ESCOLA EUROPEIAS - “IN MY SHORTS”
O júri composto pela artista Diego Bragà, pela cineasta Francisca Manuel, e pelo jornalista cultural e ator Tiago Manaia, deliberou:
Melhor Filme
À nos jardins, Samuel Dijoux (França, 2024, 28’)
“A vida real e a espontaneidade do cruising, no Louvre em Paris, contra a mercantilização das aplicações digitais e o fascismo das sociedades. As camadas de pesquisa arqueológica são surpreendentes.”
Menção Especial
Casi Septiembre, Lucía G. Romero (Espanha, 2025, 30’)
“Atribuída pelo olhar sapatão-feminista na periferia dura de uma grande cidade balnear. Direção de atrizes brilhante.”
COMPETIÇÃO QUEER ART
O júri composto pelo performer e cantor Bruno Huca, pela artista visual Luisa Cunha, e pelo cineasta Stéphane Gérard, deliberou:
Melhor Filme
Truth or Dare, Maja Classen (Alemanha, 2024, 79’)
“Partindo da ideia do jogo, oferece-nos uma realização e edição carregadas de inteligência, delicadeza, e um refinado cuidado com a luz, o som e equilíbrio entre cenas de uma simplicidade bela de forte impacto visual que nos conduzem num movimento de ternura na desconstrução da nossa sexualidade, mergulhando em espaços de honestidade, subtileza, espiritualidade, olhando e abraçando diversas subjetividades, diversos traumas, celebrando diversos corpos que se tornam esculturas, criando espaço para o afeto e vulnerabilidade e conversas sobre consentimento, num gesto não limitado à linguagem, mas revelador de uma maestria na ética do fazer cinema, quase como um “aftercare” para com o nosso imaginário sexual vigente.”
A presente edição do festival acolheu dezenas de convidades internacionais, vindes de países como Espanha, Bélgica, Brasil, França, Itália, Áustria, Argentina, Chile, Países Baixos, Alemanha ou Canadá, além de uma expressiva presença portuguesa, que enriqueceram o diálogo entre criadores e espectadores ao longo dos nove dias de evento.
O Cinema São Jorge e a Cinemateca Portuguesa assistiram um ano mais a uma grande afluência de público às suas sessões de cinema e conversas, para além das festas e eventos que anteciparam a presente edição, resultando numa afluência próxima dos 8.000 espectadores.
Com programação fortemente influenciada pela conturbada situação política e social internacional, o Queer Lisboa 29 acolheu e promoveu um cinema ativista e de denúncia, mas também um cinema de cunho mais pessoal atravessando temáticas como as do trauma e da superação, do luto e da família, numa linha curatorial que realçou de igual modo questões ligadas às migrações e diásporas, ao VIH/sida, à sexualidade e à saúde mental, celebrando o rico espectro das vivências LGBTQIA+ e esse poder transformador que um olhar queer pode ter sobre o mundo.
Encerrada mais uma edição do Queer Lisboa, estão já confirmadas as datas do Queer Lisboa 30, edição especial do festival, a ter lugar de 18 a 26 de setembro de 2026, no Cinema São Jorge e Cinemateca Portuguesa. Entretanto, terá lugar a 11.ª edição do Queer Porto, entre 4 e 8 de novembro de 2025, no Batalha Centro de Cinema, Casa Comum e Passos Manuel.