A retrospetiva deste ano do Queer Lisboa será dedicada a William E. Jones, em colaboração com a Cinemateca Portuguesa. Nascido em 1962, na cidade de Canton, no Ohio, residindo há várias décadas em Los Angeles, William E. Jones tem trabalhado em cinema, vídeo, fotografia e pintura, destacando-se também como ensaísta e romancista. Transversal a toda a sua obra está um impulso arquivista, um fenómeno que ganha enorme expressão neste novo século, particularmente dentro da cultura queer.
Desde o início dos anos noventa, Jones tem feito uso de materiais audiovisuais e fotográficos, de arquivo, para reinterpretar e recontextualizar alguns dos temas que mais o fascinam: a decadente arquitetura e urbanismo industrial do Midwest americano, os arquivos militares e a máquina de propaganda estatal do tempo da Guerra Fria ou da Guerra do Vietname, a vigilância e a repressão policial, o comunismo e o Bloco de Leste, e, muito notavelmente, a produção de pornografia na Europa pós queda do muro, e nos EUA no período pré epidemia da sida. Cruzando arte, política e pornografia, Jones trabalha um olhar democrático e filosófico sobre a imagem em movimento e a fotografia, pondo em diálogo o cinema e o vídeo, a publicidade e o filme estatal, o registo de serviços secretos e a videovigilância. E, através destas imagens, pensa qual é o lugar e o papel daqueles que vivem nas margens.
Objeto de diversas exposições individuais e retrospetivas em instituições de renome internacional (Tate Modern em 2005, Anthology Film Archives em 2010, Kurzfilmtage Oberhausen em 2011), a obra de Jones chega agora a Lisboa com uma extensa seleção dos seus trabalhos em cinema mais emblemáticos. Desde o seminal “Tearoom”, feito a partir dos registos que o Departamento de Polícia de Mansfield, no Ohio, fez em 1962 de vários homens numa casa de banho pública, ao thriller noir experimental “Finished”, que segue o rasto de um modelo pornográfico gay por Hollywood, passando pelo documentário sobre a comunidade latina de Los Angeles de fãs de Morrissey e dos The Smiths (“Is It Really so Strange?”), e por “The Fall of Communism as Seen in Gay Pornography”, com base em imagens de vídeos gay para adultos produzidos na Europa de Leste após a introdução do capitalismo.
Também haverá lugar na Cinemateca para uma Carte Blanche ao realizador, para a qual Jones selecionou filmes experimentais de realizadores marginais como Dietmar Brehm, Kurt Kren e o seu admirado Fred Halsted, sobre quem já escreveu extensamente. Este último programa é composto por quatro curtas-metragens, cujos tempos de exibição se sucedem segundo uma progressão geométrica, com cada filme tendo o dobro da duração do anterior.
RETROSPETIVA: William E. Jones
2/60: 48 Heads from the Szondi-Test, Kurt Kren (Áustria, 1960, 4’)
A Great Way of Life, William E. Jones (EUA, 2015, 7’)
Actual T.V. Picture, William E. Jones (EUA, 2013, 7’)
All Male Mash Up, William E. Jones (EUA, 2006, 30’)
Discrepancy, William E. Jones (EUA, 2017, 10’)
Fall into Ruin, William E. Jones (EUA, 2017, 30’)
The Fall of Communism as Seen in Gay Pornography, William E. Jones (EUA, 1998, 19’)
Film Montages (for Peter Roehr), William E. Jones (EUA, 2006, 11’)
Finished, William E. Jones (EUA, 1997, 75’)
Is It Really so Strange?, William E. Jones (EUA, 2004, 80’)
Jellyfish Sandwich, Luther Price (EUA, 1994, 17’)
Killed, William E. Jones (EUA, 2009, 2’)
Massillon, William E. Jones (EUA, 1991, 70’)
Model Workers, William E. Jones (EUA, 2014, 13’)
More British Sounds, William E. Jones (EUA, 2006, 8’)
Psychic Driving, William E. Jones (EUA, 2014, 15’)
Racine - 1 (1992 - 1999), Dietmar Brehm (Áustria, 2002, 8’)
The Sex Garage, Fred Halsted (EUA, 1972, 35’)
Shoot Don’t Shoot, William E. Jones (EUA, 2012, 5’)
Tearoom, William E. Jones (EUA, 1962-2007, 56’)
V.O., William E. Jones (EUA, 2006, 59’)
Youngstown / Steel Town, William E. Jones (EUA, 2016, 6’)