30 de Julho
Lionel Soukaz: a retrospetiva de 2025

O Queer Lisboa – Festival Internacional de Cinema Queer, está de volta ao Cinema São Jorge e Cinemateca Portuguesa, para a sua 29.ª edição, entre os dias 19 e 27 de setembro. Com cerca de uma centena de filmes já confirmados, o festival dá a conhecer os primeiros títulos da sua programação. A partir de dia 20 de setembro, na Cinemateca Portuguesa, apresentamos uma justa homenagem ao cineasta francês Lionel Soukaz, ativista e figura central e pioneira do movimento LGBTQIA+ em França. 

 

Nascido em 1953 e falecido em fevereiro último, em Marselha - para onde se havia mudado há já vários anos, depois de uma vida quase toda passada em Paris -, Lionel Soukaz foi um dos pioneiros do cinema queer francês, com uma forte afiliação aos ativistas e intelectuais da FHAR (Frente Homossexual de Ação Revolucionária) e da revista Gai Pied, como Guy Hocquenghem ou Copi. Fortemente influenciado pelos movimentos de vanguarda e cinema experimental da década de 1970, foi também responsável pela organização do primeiro festival de cinema gay e lésbico de Paris, o Écrans roses et nuits bleues, em 1978. Os seus filmes, resgatados de um certo esquecimento em 2004, graças sobretudo à reivindicação da crítica cultural francesa Nicole Brenez, revelam um intransigente compromisso com a narração autobiográfica e com a expressão do desejo, e encarnam a sua ânsia ilimitada de liberdade, o que levou à censura de alguns dos seus trabalhos. Censura, que Soukaz incorpora e ironiza em obras suas como Ixe, de 1980, como resposta-choque, explícita, ao brado censório à volta de Race d’Ep, lançado no ano anterior, hoje um clássico incontornável do cinema francês, corealizado e coescrito com Hocquenghem, um filme com influência direta de Foucault e que traça a história da homossexualidade moderna ao longo do século XX, desde os primórdios da sexologia e os nus do Barão von Gloeden, até ao ativismo gay e o cruising nas ruas de Paris.
 
A retrospetiva, composta pelo seu trabalho no formato da curta e média-metragem, é organizada à volta de um conjunto de linhas estéticas, temáticas e narrativas, mas sobretudo autobiográficas, elemento central e estruturante da obra de Soukaz. Como está plasmado, por exemplo, em RV, mon ami, de 1994, um emotivo poema visual dedicado ao seu companheiro de 12 anos, Hervé Couergou, falecido nesse mesmo ano de 94 de complicações derivadas do VIH/sida, e com o qual abrimos esta retrospetiva, a par do celebrado Artistes en Zone Troublés, de 2023, que mergulha nas cassetes, cartas e diários trocados entre ambos, para construir uma ode ao amor em tempos de epidemia. É também com base no seu Journal Annales, mais de 2.000 horas de imagens recolhidas ao longo dos anos, que Soukaz constrói En Corps +, de 2021, um manifesto das vidas e corpos, ativistas e artistas, que moldaram a sua vida e obra. Estas duas últimas obras foram corealizadas com o cineasta francês Stéphane Gérard, que estará em Lisboa para a apresentação da retrospetiva e para uma conversa com o público, na Cinemateca Portuguesa.
 
E porque a vida e obra de Soukaz se cruzam com a história queer francesa e mundial e com a história do cinema, uma obra que vive e observa o seu tempo, neste programa encontramos Jean Genet (La loi X – La nuit en permanence, 2001), onde Soukaz regressa ao tema da censura; Pasolini (Les Corps d’amour de Pasolini, 2005), sobre textos do filósofo francês René Schérer, outra presença habitual nos seus filmes; Michel Journiac, pioneiro da arte corporal em França (150 poèmes mis en sang, 1993); e até Jean-Luc Godard, num discurso sobre a Palestina (Carottage, 2009), ou Allen Ginsberg a marchar em Washington, em La Marche gaie, de 1980. A retrospetiva, inevitavelmente, explora também as primeiras duas décadas da sua obra, marcadas por uma linguagem visual experimental, mais contemplativa, como vemos em Ballade pour un homme seul, de 1969, ou Lolo Mégalo blessé en son honneur, de 1974, assim como a sua importante e inovadora incursão no cinema explícito, com Le Sexe des anges, de 1977.   

  

RETROSPETIVA: Lionel Soukaz


150 poèmes mis en sang, Lionel Soukaz, Michel Journiac (França, 1993, 13’)
Artistes en Zone Troublés, Lionel Soukaz, Stéphane Gérard (França, 2023, 39’)
L’année des treize lunes, Lionel Soukaz, Tony Tonnerre (França, 2001, 18’)
Autoportrait, Lionel Soukaz (França, 2002, 8’)
Ballade pour un homme seul, Lionel Soukaz (França, 1969, 18’)
Carottage, Lionel Soukaz, Powers, Stéphane Gérard (França, 2009, 47’)
Les Corps d’amour de Pasolini, Kami Kaz, Lionel Soukaz, Olivier Hérkaz (França, 2005, 34’)
En corps +, Lionel Soukaz, Stéphane Gérard (França, 2021, 65’)
Ixe, Lionel Soukaz (França, 1980, 44’)
La loi X - La nuit en permanence, Lionel Soukaz (França, 2001, 9’)
La Marche gaie, Lionel Soukaz (França, 1980, 12’)
Lolo Mégalo blessé en son honneur, Lionel Soukaz (França, 1974, 17’)
Maman que man, Lionel Soukaz (França, 1982, 49’)
Nu lacté, Lionel Soukaz, Othello Vilgard, Xavier Baert (França, 2002, 6’)
Race d’Ep / The Homosexual Century, Guy Hocquenghem, Lionel Soukaz (França, 1979, 83’)
RV, mon ami, Lionel Soukaz (França, 1994, 28’)
Le Sexe des anges, Lionel Soukaz (França, 1977, 45’)

 

 

 

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